Hoje li a versão eletrônica da entrevista de Juca Kfouri, a Revista do Brasil. Edição de Julho/2008. Acompanho os textos de Juca desde meus 16 anos, quando ele comandava a Revista Placar. Como faz muito tempo, eu não me lembro se ele escrevia, mas com certeza aprendi a gostar de seu estilo pelo conteúdo da revista. Sempre admirei e acompanhei o futebol não apenas pelo que acontece nas quatro linhas e, muito menos, pelo que acontece nas Editorias de esportes, nas Mesas Redondas. Muito pelo contrário, sempre me interessei pelo lado político e social que envolve o esporte, em particular o futebol.
Juca, eu não posso negar, “não curva a espinha”, como ele mesmo gosta de dizer, para os poderosos. E por isto, quem as vezes é simpático a uma determinada causa ou idéia, vai se irritar com ele em algumas oportunidades. É o meu caso, que tenho simpatia pelo governo Lula, pelo PT e pelo Corinthians. Mas eu não estou atado a nenhum deles, e por isto tenho a liberdade de me distanciar e analisar se Juca teria ou não razão, e muitas vezes, senão na maioria, ele tem.
Mas entrando nos assuntos discutidos por ele na revista, gostaria de me dar ao direito de me comparar a ele, embora eu não seja conhecido como ele e também não tenha feito nada como ele tem feito, pelo Brasil.
Com relação ao Corinthians, uma paixão em comum, embora o meu pai não tenha sido corinthiano como o dele, Juca talvez seja mais severo, do que é com outros clubes. Mas não o é, o Corinthians têm feito por merecer suas críticas. Eu fui uma das pessoas que na minha insignificância apoiava a parceria com a MSI. Não tinha a menor idéia de onde vinha o capital, e continuo não sabendo se realmente veio algum. Nunca pensei: não interessa a origem do dinheiro, muito pelo contrário, importa e muito. Mas o que me movia era a possibilidade de aquele ´novo´ modelo romper com o modelo atual de clube e gerar uma nova geração de clube-empresa. Mas nada disto aconteceu, como mostraram os fatos, e ele acabou tendo mais razão. Mas eu continuo a favor de radicalizar: nada de dinheiro público em esportes de alto rendimento, seja benvinda a iniciativa privada, com os seus anunciantes e tudo mais, fim dos clubes com estatutos sociais que dão direito a isenções fiscais nos níveis municipal, estadual e federal.
Sobre a esquerda: eu, como ele, acredito que o sentido da luta que a esquerda lutou continua aí: lutar contra a exclusão social. Eu ainda acredito nisto. Mas os de direita não lutam por isto? Tenho que admitir: há pessoas de direita que também querem uma maior inclusão. Então não deveria existir esquerda, centro e direita? Sim, deve existir, pois cada um deles tem um percentual maior de ações na direção da exclusão. Ainda acredito que a esquerda tem um percentual maior de pessoas e de idéias que podem reduzir a exclusão. Assim como acredito que na direita, encontra-se um percentual menor de pessoas interessadas em reduzir a exclusão. E obviamente, este numero decresce na medida em que se caminha da esquerda para a direita. Então qual é o problema no Brasil? São as idéias criadas e implementadas para se reduzir a exclusão, sejam elas vindas da esquerda, direita ou centro. Eram e sempre foram idéias muito ruins.
Sobre jogadores de futebol que deixam o Brasil: eu não entendo os que criticam a exportação de jogadores de futebol, ao mesmo tempo que defendem corretamente o fim do passe, isto é, apoiam a Lei Pelé, o Estatudo do Torcedor, a Lei de Moralização do Esporte. Penso como Pai que adora futebol, e que tem dois meninos que adoram futebol. Adoraria vê-los jogando naqueles gramados lindos, naqueles estádios deslumbrantes, com aquele público entusiasmado. Seria ótimo desfrutar o prestígio internacional, que eles obteriam caso viessem a se tornar grandes nomes do futebol. Isto ocorre desde a muito no futebol, o que mudou agora é a escala. Mas o fato é que o melhor artista tem que se apresentar nos maiores e melhores palcos. O Brasil poderia reter seus talentos? Poderia sim, mas não com uma destas leis que não resolvem nada (impedir que garotos menores de 18 anos se mudem com visto de trabalho para outros países). Teria que oferecer palcos tão bons como os da Europa. Teria que oferecer condições de consumidor ao seu público. Teria que permitir a livre concorrência no mercado do futebol. Teria que extiguir o dinheiro público para construir arenas, financiar clubes ou incentivar a formação de atletas. Sim, veríamos o Brasil do Futebol mudar, caso estas coisas básicas acontecessem.
Sobre a tiragem da Folha de São Paulo: Juca esquece de comentar que a queda no número de exemplares deve estar também relacionado com a credibilidade da mesma. Afinal de contas, o jornal tem dado demonstrações inequívocas de partidarismo nas últimas eleições. Ajudou a não a reeleger Marta Suplicy. Ajudou a alimentar a crise do mensalão. E tem alimentado todo tipo de crise que aparece e que pode eventualmente desencadear um processo de impeachment do presidente Lula. Não sou eu que digo, são orgãos que analisam a imprensa no Brasil. A quantidade de matérias desfavoráveis a Lula são maiores do que contra seus adversários. Igual processo ocorreu quando Marta Suplicy foi prefeita, mesmo quando a mesma tinha excelentes indices de aprovação de governo, foi bombardeada pela FSP com matérias negativas. Conseguiram com Marta, mas têm fracassado com Lula. E não se trata apenas do fato de que Lula é um fenômeno inexplicável. Trata-se do fato de a população do Brasil ter tido a possibilidade de explorar melhor a Internet e se informar, fato que não ocorreu durante a campanha de Marta Suplicy.
Sobre a imprensa esportiva: eu estou com o Juca, nossa imprensa esportiva é um uma lástima, um total fracasso. Comentáristas esportivos exaltam jogadores que nunca deveriam ser lembrados, mas o fazem porque tem interesses excusos. Se relacionam com pessoas que deveriam criticar, e por isto, pela falta do necessário distanciamento, não conseguem criticar, mas apenas bajular, e omitir. O fato é que a esportiva nada se diferencia do restante da imprensa brasileira.
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